quarta-feira, 28 de março de 2012

Fazendo música, jogando bola




1993 me traria muitas novidades bacanas, mas elas vieram quando eu menos esperava.

Sem aulas de música e sem uma banda pra tocar, eu me sentia totalmente desmotivado. Com o esforço dos dois anos anteriores eu havia conseguido tocar as músicas que eu gostava, mas sem professor e amigos para compartilhar novas informações, eu esbarrei nas limitações, que são normais para quem não tem aulas.

Eu estudava na parte da manhã, no colégio Estadual Queiroz Júnior, tradicional escola da minha cidade. Em uma dessas manhãs, enquanto andava no pátio conversando com alguns amigos, fui abordado por um sujeito mais velho, alto, com mais ou menos 1,80cm, que se apresentou como Marcão, e me perguntou: Você quer ser jogador de volei? Eu fiquei meio surpreso com a proposta, mas meio que instintivamente aceitei o convite. Antes de continuar, tenho que dizer que meu maior sonho na infância era ter me tornado um atleta, tentei Futebol em todas as posições possíveis, mas não foi nessa encarnação, Taekwondo foi uma tentativa também, mas além de apanhar, cansava demais. Eis que surge aos 45min do 2º tempo a chance de me tornar atleta, e melhor, sendo jogador de Volei. Ser jogador de volei é muito melhor que de futebol, não tem aquele tanto de homem suado encostando em você, não tem aquela pancadaria, e o melhor, o público feminino é muito maior. Esse era o meu pensamento.

Pronto, vou me tornar um jogador de volei! Comprei joelheiras, adotei uma dieta de atleta profissional, e me entreguei aos treinos que eram bastante puxados.

Eu nunca tinha jogado volei em minha vida, e fui aprender todos os fundamentos, recepçao, passe, bloqueio, ataque, etc.. O meu preparo físico melhorava a cada dia, eu já conseguia correr distâncias consideráveis. O Marcão era exigente ao extremo.

Me lembro bem, de ir treinar movimentação no cemitério, isso mesmo que vocês acabaram de ler. O cemitério local não havia sido inaugurado, mas já estava pronto, como o ginásio era ao lado do cemitério, ao final do treino, eu ia com meus amigos Ricardo Lincoln e Juliano Viana, treinar movimentação lá, porque lá tinha uma enorme porta de vidro que funcionava como espelho.

E assim o tempo foi passando, já estava no meio do ano, e o meu passe/recepção, assim como o meu preparo físico estava muito bom, mas tinha uma coisa que me incomodava, eu não conseguia bater uma bola sequer. Na gíria do volei bater uma bola, é o mesmo que cortar, virar... Resumindo, eu não tinha tempo de bola, ou melhor eu não tinha a menor vocação para o esporte. Mas eu era um jovem sonhador, e que não desistia tão fácil.

Um belo dia, recebo a notícia que o Marcão não seria mais o nosso treinador. Eu não me recordo ao certo se veio um substituto, ou não, mas me lembro que continuei treinando com alguns amigos que ainda estavam no projeto, e com um treinador de um time local.

Eu já me sentia desmotivado, porque alguns dos meus amigos abandonaram os treinos, como foi o caso do Ricardo, que foi trabalhar, eu não sabia jogar direito, então não poderia ingressar em nenhum time, e estava sem professor, ou seja, estava em fim de carreira.

Era sábado, mês de agosto, e fui ao treino de volei, nesse dia fui somente assistir. Num determinado momento, o treinador me chamou num canto e me disse assim: "Você não leva jeito pra jogar volei". Aquilo foi como levar um soco, eu precisava ouvir aquilo, mas não dessa forma direta, engoli aquilo, sem falar nada, e prometi pra mim que se algum dia eu tivesse alunos, eu nunca falaria assim. Logo depois ele comunicou a todos que o time de volei chegava ao fim.

O que vou contar agora, merecia uma trilha sonora de fundo.

Vim embora pra casa, chateado com o que ouvi e frustrado por me dedicar tanto e não obter o resultado desejado.



Enquanto caminhava, pensando em tudo que tinha acontecido, escuto longe uma bateria, fui me aproximando e escutei uma banda ensaiando nos fundos do bar "Aquarius". Chegando no bar, resolvi entrar, no fundo havia uma portinha, daquelas de saloon de filme. Quando entrei no espaço onde a banda ensaiava, todos vieram até a mim, eu já conhecia a maioria deles, foram meus amigos de colégio, eu não sabia que eles tinham banda, mas eles sabiam que eu tocava, e imediatamente o baixista que era o único que eu não conhecia veio me passando o baixo e pedindo pra tocar, ele me disse que era cantor, mas como ninguém tocava baixo, havia assumido o posto por falta de opção. Eles ficaram insistindo, eu eu me esquivando, até um momento em que não teve jeito, peguei o baixo Jennifer, que não era dos melhores, mas conseguia ser melhor que o meu. Eles perguntaram, você toca Bete Balanço? Eu respondi que sim, e o Eli, que era o baterista contou até 4, e... Tá,tá,tá... Bete Balanço fazia parte do meu set list ensaiado por dois anos, sozinho no meu quarto. Enquanto a música rolava olhei pra todos da banda, e todos sorriam de uma ponta a outra, pareciam eufóricos, e eu pensava com meus botões, porquê estão rindo? Quando terminou a música, todos se dirigiram a mim, inclusive o Lauro, que era o baixista, todos estavam eufóricos e me davam os parabéns, eu não entendia, o porque, afinal eu toquei a música como era, mas nada demais. Em seguida tocaram "Meu erro"dos Paralamas, que tem um riff de baixo bem conhecido, e me dei bem de novo, a euforia continuou. Então eles me contaram que o Lauro tocava somente as composições dele que eram em inglês, o set nacional que o Daniel Barbosa cantava, ficava sempre sem baixo.

No final do ensaio eles me contaram que a banda se chamava "Atenas", e me perguntaram se eu queria entrar pra banda, eu pedi um tempo pra pensar e fui embora.

Show com a banda Atenas em setembro de 93.

Naquele momento sem eu saber, eu encontrava meu caminho. A partir dali minha vida seria guiada pela música.

Chegando em casa fiquei pensando, tanta gente afim de tocar, ter uma banda, e eu que posso ter isso tudo, fazendo doce.. E o pior andando com a turma errada, o volei é legal, mas não é a minha praia.

Falei com os meninos e aceitei participar da banda Atenas, mas na vida as coisas muitas vezes, não acontecem no tempo que desejamos. No tempo em que eu quis ter uma banda eu não consegui, logo após receber o convite da Banda Atenas, recebo um convite do Pitty, pra formar uma banda com ele. O Pitty, era um dos cantores e guitarrista, da "Sociedade alternativa". Olhando de longe hoje, isso não tem problema algum, mas naquela época, para um adolescente ter uma banda era um lance sagrado, de idealismo, do tipo "eu tenho uma banda".

Fiquei no meio de uma crise tremenda, em qual banda vou entrar? O Pitty era mais velho e experiente, poderia me ensinar muita coisa, a Atenas já tinha show marcado, no final eu consegui um jeito e entrei em duas bandas.

O 1º show foi com a Banda Atenas, numa festa de barraquinha do bairro tombadouro, o cachê foi pastel de angú com refrigerante. O principal foi a felicidade de ter feito o 1º show, todos nós ficamos muito felizes.

Depois veio o show com a outra banda, que foi batizada pelo Jairinho baterista, de "Sinópse", essa banda tinha 2 bateristas, o Jairinho e o Emerson, o Jairinho já fazia parte da banda, mas como não tinha bateria, chamamos o Emerson que tinha o instrumento, e assim ficou, os 2 dividiam o set list, além deles, de mim e do Pitty, tinha também o Aguinaldo.

Nessa banda eu toquei pela 1º vez artistas como Caetano Veloso e Eric Clapton, e outros que até então eu só conhecia de nome.

Os ensaios das duas bandas eram sábado a tarde, eu atravessava a cidade a pé com um baixo pesadíssimo nas costas, num sol de Saara.

De todas as bandas que tive, essa foi a que teve a melhor escolha de nome. A "Sinópse" durou exatamente um show, na cidade de Cachoeira do Campo, na festa da Jabuticaba, foi somente uma Sinópse.

Passei a me dedicar somente a Atenas, que em sua formação original tinha além de mim, o Daniel Barbosa, voz/guitarra; Eli, bateria; Ronaldo, teclado; Clenio, guitarra; e Lauro, voz e baixo.

Foi um período muito legal, uma fase de aprendizado, e principalmente de diversão. Além do sábado, ensaiávamos sexta a noite, nessa época a Band exibia um programa chamado Básico instinto, que era um mix de show, teatro, mulheres em performances sensuais e uma banda ao vivo, formada pelo João barone, Dado Villa Lobos, entre outros.. Tudo isso sob o comando de Fausto Fawcet. Depois dos ensaios de sexta eu sempre assistia.

Cartaz de show em 93. Nessa festa toquei com a banda Atenas e com o Rogerinho Morais, no lugar da Banda Sociedade Alternativa.

Me lembro também de ter feito um show com o Rogerinho Morais, que era o outro cantor/guitarrista da Sociedade Alternativa numa festa de barraquinha, o show foi só eu e ele no palco, Guitarra, voz e baixo.

Começamos a receber convites para participar de festas da cidade, e assim fomos amadurecendo musicalmente.

Até o fim do ano a banda perderia 2 de seus fundadores, o tecladista Ronaldo e o baterista Eli, por motivos pessoais resolveram sair.

O ano seguinte traria uma nova formação e muitas novidades para mim.

Um comentário:

Mouseketeer disse...

E o resto da história??? Curiosidade MASTER!!!rs